quarta-feira, 27 de julho de 2016

As três plumas



Irmãos Grimm

Há muito tempo, numa galáxia distante, havia um rei que tinha três filhos. Os dois primeiros eram sabidos e inteligentes, mas o terceiro era muito calado e simplório, tanto assim que ficou sendo denominado de João Bobo.

Estando já velho e adoentado, e temendo um fim próximo, o rei achou que devia escolher qual dos três príncipes deveria subir ao trono depois de sua morte.

Chamou os filhos e disse:

– Meus filhos, estou velho e doente. Quero, pois, garantir a sucessão ao trono. Ide viajar. Aquele de vós que me trouxer o mais fino e delgado tapete, esse será o herdeiro do trono depois que eu morrer.

O ovo e a galinha


Clarice Lispector

De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo.
Olho o ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo. Ver um ovo nunca se mantém no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto um ovo há três milênios.  No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo.  Só vê o ovo quem já o tiver visto.  Ao ver o ovo étarde demais: ovo visto, ovo perdido.  Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo.  Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo.  Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o ovo.  O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe.